Ando desconfiada de que a escola esteja fazendo mal pra cabeça do Geraldinho. Ontem mesmo veio com umas conversas esquisitas para o meu lado. Tudo começou quando eu lhe disse: "Deus tarda, mas não falha, Geraldinho!". A frase estava num contexto. Já me explico. Queria consolá-lo de um calote que ele recebeu do neto do Vicente Moura. O pobre do Geraldinho lhe vendeu um pião, mais meio cento de bolinhas de gude., e o ordinário não lhe pagou. Depois da minha frase que apelou para a justiça divina, o menino me fulminou com um olhar de desaforo e esbravejou: - Vovó, Deus tem mais o que fazer do que ficar cuidando da safadeza de gente vagabunda!
Quase perdi a fala com aquela reação do menino. Achei forte demais aquela expressão. Sempre fomos muito ponderados nas conversas que tínhamos à frente das crianças. Aprendi com papai. Ele nunca nos permitia falar palavrões. Depois do acontecido pude concluir que Geraldinho deve ter aprendido isso na escola. Educar uma criança é como cultivar goiabas. Por mais que a gente cuide delas, sempre dão bicho. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.65,66).
quinta-feira, 26 de dezembro de 2019