A alça do vestido me recorda a juventude perdida. Essa pele crespa, esse ressecamento que não há creme que contenha. Eu caminho nas estradas dos contrários. Enquanto o mundo se estreita, eu me alargo. As medidas denunciam que estou me esparramando aos poucos, como se minha desintegração estivesse se antecipando. Olho no espelho do quarto e não caibo mais inteira dentro dele. O que sobra é o que deveria ser perdido, mas não há receitas mágicas. Com o tempo, tudo é mais penoso. Um grama na velhice é um quilo na juventude. Essa desproporção me assusta. O medo também. Companheiro inevitável. Antes, a coragem heroica: hoje, o despropósito absurdo de minhas coleções de receios. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.103).
sábado, 21 de dezembro de 2019