Minhas ausências não me deixam partir. Funcionam como âncoras que me prendem ao porto. Não tenho coragem de encher os pulmões de ar para formular o meu grito de independência. Diga ao Lourenço que fico. Diga a ele que que sempre ficarei. Eu não saberia buscar outro lugar sem que seus olhos proprietários me acompanhassem. Ele é meu complemento. Disso não tenho dúvida. Parece cruel, mas não é. É nele que avisto a parte que falta. Sou de pedra. Serei sempre de pedra. Demoro para crescer, eu sei, mas ninguém poderá negar que toda pedra inspira segurança. A Sagrada Escritura nos sugere que a casa precisa ser construída sobre a pedra. Não há chuva ou tempestade que possa separá-la de seus alicerces. Simão foi transformado em pedra. O homem que foi retirado das águas se tornou porto inicial. Sobre águas ninguém está seguro. Sobre a pedra, sim. Pois bem. Esta é a minha regra. (MELO, Pe. Fábio De. Mulheres cheias de graça, 2015, p.162).
sexta-feira, 8 de novembro de 2019